Estas foram às palavras proferidas pela presidenta Dilma, repetidas pela então Ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, que ecoaram pelos quatro cantos da III Conferência Nacional da Promoção da Igualdade Racial (III CONAPIR), realizada em Brasília, em novembro de 2013.
O questionamento feito publicamente, em altos brados, diante de milhares de delegados, de uma forma contundente e incisiva, remeteu-me, na época, aos primórdios da luta contra o racismo no Brasil.
Foram mais de 350 anos de escravidão, onde milhares de homens e mulheres foram trucidados e mortos pelo simples fato de sonharem com a liberdade.
No Quilombo dos Palmares, Zumbi, juntamente com milhares de negros fugitivos da escravidão, resistiram bravamente durante várias investidas dos portugueses, representados pelas forças lideradas pelo Bandeirante e assassino, Domingos Jorge Velho.
Ele também teve que enfrentar uma rebelião interna, opondo-se firmemente à capitulação que estava em curso, comandada por Gangazumba, que pretendia fazer um acordo, na calada da noite, para acabar com a resistência quilombola.
São passados mais de 129 anos da assinatura da denominada “Lei Áurea”, incompleta e resultante dos interesses mercantilistas, e que, também teve o envolvimento de abolicionista negros, provando que efetivamente estes, também estavam preparados para o enfrentamento.
Uma luta desigual ocorreu também com a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, que ficou aproximadamente uma década nos corredores do Congresso, para ser aprovado sem a criação de um fundo que colaborasse no financiamento das políticas previstas em lei, resultando num documento inócuo na sua capacidade de atuação.
Obviamente, que não há como se prever um resultado como este, para algo tão esperado pela comunidade negra.
Nos últimos 12 anos, tivemos uma série de avanços sociais no Brasil, com a diminuição da pobreza, graças as iniciativas governamentais adotadas pelo Brasil, após a primeira eleição do Presidente Lula, em 2009.
Por outro lado, as políticas voltadas para a população negra, continuam sofrendo uma grande resistência da parte da elite dominante branca, que se recusa a abrir mão de seus privilégios, boicotando e desrespeitando as conquistas da população negra.
Isto se reflete nas políticas de cotas, que é motivo de questionamento constante da parte da mídia, e daqueles, que são os detentores do poder efetivo no país.
Recentemente, na anunciada reestruturação de ministérios promovida pela Presidenta Dilma, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção Racial (SEPPIR), fundiu-se as Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SPM), a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e a Secretaria de Direitos Humanos (SDH), todas incorporadas ao novo Ministério dos Direitos Humanos (MDH).
Os últimos acontecimentos políticos ocorridos no Brasil comprovam que a maioria negra não é efetivamente uma prioridade governamental, e que, consequentemente, continuamos ausentes dos principais debates políticos.
Neste caso, em especial, podemos orgulhosamente dizer que os afrodescendentes brasileiros, não apreenderam a desenvolver a denominada “Política de Resultados” que está impregnada nas paredes e corredores do Congresso Nacional.
Não estamos preparados para abrir mão de direitos, nem de negociar as nossas conquistas.
Somos a massa que ocupa as ruas no Dia da Consciência Negra, que protesta contra a Abolição Inacabada, que ocupa o campo, os morros, as comunidades de favela, as universidades.
Os afrodescendentes brasileiros, desde o princípio, optaram pelo caminho da luta e da resistência.
Não abriremos mãos dos nossos princípios!
Não à capitulação!
Não adotaremos as práticas de Gangazumba, pois sabemos que historicamente “somos nós, por nós mesmos!”.
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